Não se sabe quantos são, mas são muitos os descendentes de judeus, Cabo Verde está a redescobrir a sua herança judaica.
Por Susana Moreira Marques
Sim, há negros com sangue judeu, assim como há brancos que são simultâneamente africanos e judeus. Continua a causar surpresa falar da presença judaica em África. No que toca a Cabo Verde, recentemente, o trabalho da associação Cape Verde Jewish Heritage Project, fundada pela jornalista americana Carol Castiel nos Estados Unidos da América, que já renovou dois cemitérios judaicos em Cabo Verde, veio fazer com que a herança judaica caboverdiana se tornasse mais conhecida, mais discutida e começasse a ganhar um lugar no caldo cultural que caracteriza o arquipélago.
Cemitério judeu em Boa Vista.
Cemitério já recuperado da Praia.
Cemitério judeu de Penha de França, Santo Antão.
Fotografias retiradas de Cape Verde Jewish Heritage Project
Existem muitos descendentes de judeus caboverdianos, não se sabe quantos. A maior parte deles são hoje católicos e muitos vivem fora de Cabo Verde. Todos os que falaram com o Rede Angola descreveram Cabo Verde como um lugar onde nunca foi demasiado importante a diferença. É, ironicamente, por isso, que se torna difícil, hoje, fazer um retrato dos judeus caboverdianos: foram tão bem aceites que se integraram e assimilaram em poucas gerações.
O que se sabe é isto: no século XIX, vários judeus, na sua grande maioria homens, comerciantes, ou o que chamaríamos hoje de homens de negócios, fixaram-se em Cabo Verde, sobretudo nas ilhas de Santo Antão, São Vicente e Boa Vista. Teriam vindo depois da extinção da Inquisição – que durante três séculos ferozmente perseguiu judeus e cristãos novos – em 1821, e impulsionados por um novo tratado de comércio marítimo entre Portugal e o Reino Unido, assinado em 1842. Eram judeus vindos sobretudo de Marrocos e que chegavam via Gibraltar, que estava sob domínio britânico. Em Marrocos havia, naquela época, uma forte comunidade de judeus sefarditas, que aí se tinham instalado, como aconteceu um pouco por todo o espaço mediterrâneo, após a expulsão em 1492, de Espanha, e em 1497, de Portugal.
Cabo Verde foi um pequeno coração tranquilo num mar a perder de vista.
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