segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Oração




"Bendito tu, Adonai nosso Deus, Rei do Mundo que nos santificaste nas santas encomendações, benditas e santas, santas e benditas, nos recomendaste pelos teus profetas para distinguir o teu santo dia e nele repousar. Ámen."








Prece recolhida por Amílcar Paulo em terras de Carção, Argozelo e
 Vimioso, em: "Os judeus Secretos em Portugal".







quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Monoteísmo e Messianismo Judaico





Aula aberta


A área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona abre a frequência como Curso Livre da sua cadeira de mestrado em «Monoteísmo e Messianismo
Judaico», leccionada por Paulo Mendes Pinto.





O Início será marcado por uma Aula Aberta para a qual todos estão convidados e que terá lugar no dia 26 de Outubro pelas 20h00.

Local: Sala 2.3., Ed. da Biblioteca
Universidade Lusófona, Lisboa


Apresentação:


Com o advento do I milénio a.C., a vasta zona da Síria e de Canaã vê surgir uma nova forma de conceber a divindade. Único e exclusivista, o "deus" monoteísta requer um grupo de compromissos, de laços e de identidades que não mais vão largar a forma de conceber Religião no mundo Mediterrânico, primeiro, e em todo o planeta, depois.
Com este curso pretendemos olhar para as implicações mentais, sociais e religiosas da adopção dessa revolução, debruçando-nos sobre as manifestações e textos judaicos. Ao longo de uma história de três milénios, o Judaísmo formulou, não apenas o monoteísmo, assim como a sua principal expressão na forma de encarar o tempo e o próprio Humano: o Messianismo.
Dentro deste quadro monoteísta e com a fundamental componente do messianismo enquanto justificação do tempo, olharemos para as diversas tradições culturais, religiosas e místicas que ao longo do tempo o judaísmo foi elaborando na matriz cultural ocidental.



Mais informações através do e-mail: pmpgeral@gmail.com








quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Curiosidades Judaicas | Vila do Soito - Sabugal






Vila do Soito


Foto de Duarte Fernandes Pinto do blog portugalfotografiaerea


É tradicional ligar os apelidos de árvore aos judeus que, à data da expulsão, foram obrigados a converter-se ao cristianismo e, no baptismo cristão, adoptaram nomes de árvores em substituição dos nomes judeus que até então tinham. Carvalho, Oliveira, Pereira, são apelidos habituais no Soito.


No entanto, há outros nomes e apelidos que também terão a sua origem nesta fase da história dos portugueses. Um deles é o “RITO”, que, segundo opiniões avalizadas, estará ligado ao rito religioso que os judeus praticavam. Com o nome “Rito” seria então a pessoa que presidia ou organizava o rito, ou então o guardador / vigia do rito, que ficava à porta da casa onde se faziam as celebrações, para dar sinal aos participantes de algum perigo que se aproximasse.


Se se confirma que o nome “RITO” tem esta origem judaica, o Soito seria uma população onde predominava o judaísmo. De facto, o apelido mais frequente na população do Soito é o “Rito”.


Existe documentação que confirma que em determinada época da inquisição foi pedido às autoridades da região que, para efeitos de testemunhar em processo inquisitorial, informassem quantas famílias havia no Soito que não fossem judias e só foram indicadas duas.


No repovoamento desta zona, séc. XI, XII e XIII, os judeus foram protegidos ou pelo menos não hostilizados pelo reino de Leão e fizeram parte dinâmica da ocupação e desenvolvimento destas terras. Com a perseguição do séc. XV que culminou com a expulsão dos judeus de Espanha em 1492, pelos Reis Católicos, muitos vieram abrigar-se em Portugal. Sabemos que dos cerca de 400 mil judeus expulsos de Espanha, cerca de 100 mil vieram para Portugal e 35 mil atravessaram a fronteira nesta zona. Não é pois de admirar que a comunidade judaica do Soito tivesse acolhido vários irmãos vindos de Espanha. Só que, 4 anos depois, em 1496, o rei de Portugal, D. Manuel, foi obrigado pela rainha espanhola Isabel, a católica, como condição para o casamento com a sua filha, a decretar a expulsão dos judeus de Portugal.


D. Manuel garantiu aos que se convertessem ao cristianismo a permanência no reino. Os conversos deveriam gravar uma cruz na soleira da porta, como prova da sua conversão. D. Manuel não permitiu que os convertidos fossem molestados mas os seus sucessores deixaram que o tribunal da Inquisição os perseguisse e investigasse as suas práticas rituais. Aparece então o “Rito”, o vigilante ou o celebrante do ritual judeu, praticado às escondidas pelos que supostamente se tinham “convertido” ao cristianismo.


Estas considerações são essenciais para compreender alguns sinais existentes nas casas do Soito, que evidenciam a presença judaica.


Na recente reconstrução da casa dos seus avós que fez a D. Amália Rito, ficaram evidentes esses sinais. Na soleira da porta está a cruz. É verdade que só esse facto não quer dizer que a casa fosse de um judeu convertido, pois a cruz é um sinal cristão que, por princípio, qualquer cristão piedoso pode pôr nas suas propriedades. Os frades franciscanos, a partir do séc. XIII, promoviam essa forma de manifestação religiosa.



 Mas na soleira da porta da casa da D. Amália há outro sinal que poderá ser próprio de casa de judeu. É um buraco escavado na pedra da soleira que poderia ter sido uma “MEZUZAH”, sítio destinado a guardar a “SHEMA’ISRAEL” (Ouve Israel), papel com dizeres que lembram ao judeu a sua fé. Os dizeres mais normais desse papel são: 

“Ouve Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um” ou “Deus
de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob”


Na casa da D. Amália há ainda uma pedra que ficou visível com a retirada do reboco e que tem desenhada a parte inferior duma cruz. Esta pedra está incorporada na parte da actual varanda e ressalta desde logo que é parte de outra pedra que teria o resto da cruz. A pedra completa poderia ser a toça, ou pedra superior de uma porta. Pelas suas características construtivas, ressalta a um observador minimamente conhecedor da técnica de construção de casas, que a parte da actual varanda da casa da D. Amália é um acrescendo, feito em época posterior à construção do resto da casa. O acrescento era um “parame” (alpendre), indispensável para ter lenha e giestas secas perto da cozinha.

 Foto: Soleira da porta, com a cruz na pedra de cima e a mezuzah na pedra de baixo.



Conclusão lógica será que esta parte de pedra incorporada no “parame” foi, por certo, retirada de outra construção de casa antiga, necessariamente de outra casa da mesma família, talvez em época em que a questão dos sinais judaicos já não faziam sentido.


Coincidência ou não, a avó da D. Amália, proprietária da casa, falecida nos anos cinquenta do século passado, chamava-se Ana Manso Rito. Aqui fica uma recordação e homenagem a uma mulher que poderia ter sido descendente de judeus e que tinha virtudes que levaram os cristãos que a conheceram a afirmar que se ela não foi para o céu, então nenhum dos cumpridores dos mandamentos cristãos, será merecedor de ir para lá.



Fontes:
http://www.cilisboa.org/documents/tikva_08/bu_8_66.pdf
Artigo que foi publicado no jornal de Soito pelo Dr. Rito Pereira.
Colaboração de Saghi Koshet
http://soitoimagens.blogspot.pt/2011_12_01_archive.html