Vila transmontana situada muito perto do rio
Douro, Torre de Moncorvo teve judiaria confirmada desde a Idade Média. Com D.
Dinis, tornou-se uma das sete sedes de ouvidoria ( regiões com administração
judicial e civil ) autónoma existentes em Portugal e que tutelava
Trás-os-Montes. Vários outros documentos comprovam a realidade da judiaria nos
secs. XIV e XV.
A Judiaria localizava-se nas traseiras da actual
igreja da Misericórdia, na que veio a ser posteriormente, a Rua Nova. Conforme
tradição, a sinagoga encontrava-se aqui, numa casa ainda existente.
Com a expulsão de Espanha em 1492, muitos
refugiados, instalados numa fase inicial nos campos da Vilariça tornaram-se
habitantes do município.
Após o decreto de D. Manuel e, já no tempo dos
cristãos-novos a vila e o concelho de Moncorvo tornaram-se um dos mais
importantes centros cripto-judeus do norte de Portugal, facto que é comprovado
pelos mais de trezentos processos levantados na inquisição contra moncorvenses
como pelo rasto e importância que muitos deles ou seus descendentes tiveram na
história da diáspora judaica portuguesa; Manuel Rodrigues Isidro, banqueiro do
rei de Espanha e o seu irmão Vasco Pires Isidro fundaram uma das mais globais
companhias comerciais da Europa ( Moncorvo, Madrid, Porto, Rouen, Amsterdam,
Hamburgo ).
Ambos foram perseguidos pela inquisição e, nesta
última cidade, Manuel Rodrigues ajudou a fundar um dos mais antigos bancos do
mundo.
O marranismo manteve-se vivo em Torre de
Moncorvo até ao séc. XX; uma comunidade e uma sinagoga funcionaram nessa época
numa casa particular junto à igreja matriz.
O grande escritor e poeta argentino Jorge Luís
Borges tinha ascendência assumidamente criptojudaica de Torre de Moncorvo.
" Nada o muy poco sé de mis mayores
portugueses, los Borges: vaga gente
Que prosigue en mi carne, oscuramente,
Sus hábitos, rigores y temores.
Tennues como si nunca hubieran sido
Y ajenos a los trámites del arte,
Indescifrablemente forman parte
Del tiempo, de la tierra y del olvido.
Mejor asi. Cumplida la faena,
Son Portugal, son la famosa gente
Que forzó las murallas del Oriente
Y se dio al mar y al outro mar de arena.
Son el rey que en el místico desierto
Se perdió y el que jura no há muerto".
em Obra Poética, Jorge Luis Borges, 1960
Via: redejudiariasportugal