quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Torre de Moncorvo









Vila transmontana situada muito perto do rio Douro, Torre de Moncorvo teve judiaria confirmada desde a Idade Média. Com D. Dinis, tornou-se uma das sete sedes de ouvidoria ( regiões com administração judicial e civil ) autónoma existentes em Portugal e que tutelava Trás-os-Montes. Vários outros documentos comprovam a realidade da judiaria nos secs. XIV e XV.

A Judiaria localizava-se nas traseiras da actual igreja da Misericórdia, na que veio a ser posteriormente, a Rua Nova. Conforme tradição, a sinagoga encontrava-se aqui, numa casa ainda existente.

Com a expulsão de Espanha em 1492, muitos refugiados, instalados numa fase inicial nos campos da Vilariça tornaram-se habitantes do município.

Após o decreto de D. Manuel e, já no tempo dos cristãos-novos a vila e o concelho de Moncorvo tornaram-se um dos mais importantes centros cripto-judeus do norte de Portugal, facto que é comprovado pelos mais de trezentos processos levantados na inquisição contra moncorvenses como pelo rasto e importância que muitos deles ou seus descendentes tiveram na história da diáspora judaica portuguesa; Manuel Rodrigues Isidro, banqueiro do rei de Espanha e o seu irmão Vasco Pires Isidro fundaram uma das mais globais companhias comerciais da Europa ( Moncorvo, Madrid, Porto, Rouen, Amsterdam, Hamburgo ).

Ambos foram perseguidos pela inquisição e, nesta última cidade, Manuel Rodrigues ajudou a fundar um dos mais antigos bancos do mundo.

O marranismo manteve-se vivo em Torre de Moncorvo até ao séc. XX; uma comunidade e uma sinagoga funcionaram nessa época numa casa particular junto à igreja matriz.



O grande escritor e poeta argentino Jorge Luís Borges tinha ascendência assumidamente criptojudaica de Torre de Moncorvo.






" Nada o muy poco sé de mis mayores
portugueses, los Borges: vaga gente
Que prosigue en mi carne, oscuramente,
Sus hábitos, rigores y temores.
Tennues como si nunca hubieran sido
Y ajenos a los trámites del arte,
Indescifrablemente forman parte
Del tiempo, de la tierra y del olvido.
Mejor asi. Cumplida la faena,
Son Portugal, son la famosa gente
Que forzó las murallas del Oriente
Y se dio al mar y al outro mar de arena.
Son el rey que en el místico desierto
Se perdió y el que jura no há muerto".




em Obra Poética, Jorge Luis Borges, 1960






Via: redejudiariasportugal




Sem comentários:

Enviar um comentário