terça-feira, 16 de agosto de 2016

Coruche





A evolução da malha urbana de uma vila ribeirinha: contributos para o conhecimento do caso de Coruche 


Autor(es): Correia, Ana Maria Diamantino Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de História Económica e Social 







Desenho de Heraldo Bento - Tinta da china s/ papel
Travessa do Arco (antigo Beco da Judiaria)

Retirado de: coruche.blogs.sapo.pt





(...) A existência de uma Rua Direita é, como se sabe, muito frequente na toponímia urbana medieval. Em Coruche, a Rua Direita era a rua principal no contexto urbano da vila, e ainda hoje conserva esta primazia como eixo estruturante no âmbito do centro histórico. Apresenta uma configuração paralela ao rio Sorraia, a meio termo entre a elevação sobranceira ao aglomerado urbano e o curso do rio, indo ao encontro da praça principal, onde se subdivide em duas artérias, as actuais Rua de S. Pedro e a Rua da Misericórdia.



Pode dizer-se que a existência deste curso de água, associado à presença de vias de comunicação com uma configuração paralela ao próprio rio, sendo a artéria principal atravessada por uma trama de ruas, becos e azinhagas de importância secundária, definem indiscutivelmente a malha urbana da vila de Coruche desde tempos antigos e permanecem perceptíveis a um olhar actual. A par destes elementos, a localização da igreja matriz, já referida, funcionava como factor responsável pela configuração da tessitura do aglomerado urbano. Mas de que forma estaria organizado o povoamento no interior da vila neste período? A este respeito faltam estudos que respondam à questão. No texto do foral afonsino, o rei menciona a existência de cristãos, judeus e mouros, o que pressupõe a coexistência destes três grupos religiosos, embora vivendo certamente em espaços distintos. 






Como se sabe, regra geral, as judiarias estariam instaladas no interior do centro urbano, enquanto que as mourarias se situariam nos limites, não deixando de ser zonas bem demarcadas na malha urbana, para além de exclusivas. Segundo a informação conhecida, em Coruche, cristãos e judeus terão vivido conjuntamente até D. Afonso V determinar que os últimos se juntassem e constituíssem uma judiaria, deixando, desta forma, de viver “em cristandade”. Fernando Branco Correia acredita que tal não aconteceu de facto, dada a inexistência de qualquer referência à judiaria de Coruche, enquanto Margarida Ribeiro, embora não tenha conseguido determinar a sua localização, alude a dois documentos que lhe fazem menção, acrescentando ainda que esta terá sido extinta, à semelhança das demais existentes no reino, em 1496, aquando da expulsão dos judeus por D. Manuel. 







Mais um desenho de Heraldo Bento
 Travessa do Arco (antigo Beco da Judiaria)

coruche.blogs.sapo.pt





A tradição oral apelida a actual Travessa do Arco, pequena artéria da Rua Direita, próxima da Praça da Liberdade, como tendo sido em tempos o Beco da Judiaria, embora tal não possa ser confirmado por documentação que o sustente. Quanto à existência de uma possível mouraria, não é conhecida, de momento, qualquer menção a este respeito no que trata a Coruche. Tal pode dever-se, por um lado, à inexistência de uma separação física ou, por outro lado, ao desaparecimento intencional de qualquer vestígio da sua localização.






Via: digitalis-dsp.uc.pt





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