O pastorzinho que não sabia ler
Era uma vez um pastor, um rapazinho judeu, que adorava assobiar ao seu
rebanho de ovelhas. O pastorzinho não ia à escola, não sabia ler nem escrever,
passando os dias a ouvir os sons da natureza e a admirar a beleza do mundo.
Um dia, nos princípios do
Outono, decidiu juntar-se às pessoas que se dirigiam para a sinagoga, para as
orações de Rosh Hashaná. Pôde ouvir um pai que fazia recomendações ao filho, dizendo-lhe
para se comportar apropriadamente, porque naquele dia o mundo inteiro ia ser
julgado, e cada um de nós seria julgado para o resto do ano.
O pastorzinho logo que entrou
na sinagoga sentiu como que uma excitação no ar. Havia qualquer coisa na
atmosfera que lhe despertou uma profusão de sentimentos: de arrependimento e de
temor, de reverência e de amor. Não conhecia as palavras para explicar o que
sentia, mas o seu coraçãozinho estava quase a explodir de tanta comoção.
Reparou que todos na sinagoga seguravam um livro de orações, o mahzor, e rezavam com muito fervor. Então o pastorzinho foi buscar um livro mahzor; mas não sabia ler, nem ao menos
reconhecia a forma da letra alef. Na
verdade ele segurou no livro de pernas para o ar, e sem saber o que fazer, os
seus pensamentos começaram a vaguear.
Foi quando D’us penetrou na sua alma, inundando-a
com o Seu sopro divino, e o pastorzinho, não conseguindo mais controlar os seus
sentimentos, o amor que sentia pelo mundo, fez aquilo que sabia fazer tão bem:
ASSOBIAR!!!
De repente, todos olharam para
ele. Como podia ser tão ignorante? Como podia atrever-se a desrespeitar aquele
lugar santo, naquele dia santo? Alguns quiseram mesmo expulsá-lo da sinagoga.
Mas o rabino, com um brilho nos olhos, dirigiu-se-lhe, pegou-lhe na mão e
conduziu-o à *bimá.
Terminadas as orações o rabino voltou-se
para a congregação, lembrando a todos que uma Corte Celestial estava a
julgar-nos, a perscrutar o que de pior havia na nossa alma. Mas quando o assobio
do pastorzinho soou, a pureza dos seus sentimentos abriu os portões do Céu e as
orações por Israel tinham sido finalmente ouvidas.
São os votos sinceros da Sónia Craveiro,
que nos enviou este
conto.
Muito obrigada Sónia J
*bimá – A bimá é uma plataforma elevada na
sinagoga, onde se faz a leitura da Torah,
e se fazem algumas prédicas.
Fontes:
N. Musatova; Zalman Kleinman e Shirley Moscowitz paintings
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