O Poema
Mural em memória dos Castelo-Videnses vítimas da
Inquisição.
Museu de Castelo de Vide
Cantava, nesse
tempo,
A oração dos
mortos,
Ligando no tear
Os fios da
memória –
Devolvia a água
À raiz da
oliveira
Para que o
sangue
Pudesse
alimentar
A luz (e as
sombras)
Dessa terra –
Lançava sobre o
lume
O sabor e a
sabedoria
Para que o
fermento
Envolvesse a
solidão –
Bebia na fonte
O brilho da
pedra,
Guardando no
cântaro
A angústia das
palavras –
Guardava no
peito
O fogo e a fuga,
O leito que um
dia
Fechara a
garganta –
– Quando vieram,
sem sombra,
Impor sobre o
corpo esse peso
Sem vida
E a vestiram de
noite,
Embora fosse
branco
O hábito
perpétuo.
Por
Ruy Ventura
Este
poema foi-me enviado pelo autor, escrito em memória de uma antepassada judia,
condenada pelo tribunal da Inquisição de Évora.
Nota
–
Catarina Dias, a Purgatória foi uma judia do século XVIII residente em Castelo
de Vide. Foi condenada pela Inquisição de Évora a usar o chamado “sambenito”.
Outros seus familiares foram queimados em auto-de-fé no Rossio de São Brás, na
capital da então província de Entre-Tejo-e-Odiana.
Ruy Ventura acrescenta no seu blog, Estrada do Alicerce:
“Ao construir a minha árvore genealógica,
deparei-me com um nome estranho: Catarina Dias, a Purgatória. Tentei investigar
de onde viria essa designação. Achei Catarina membro da família Narigão (de
Castelo de Vide) que, em conjunto com os Tirados, fora severamente atormentada
pelos sequazes da Inquisição. Catarina estava incluída no número dos
sofredores: embora não tivesse visto as suas cinzas misturadas à terra do
Rossio de São Brás de Évora, local de autos-de-fé, fora obrigada a usar durante
toda a vida o odioso “sambenito “. Daí o alcunha.”
Uma das ruas da Judiaria de Castelo de Vide
Fontes:
Enviado por Carlos Baptista
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