“Assim como meu corpo está seco,
Meus beiços lavados,
Meu sangue derretido,
Assim me outorgueis Senhor o que vos pido." (1)
(1) Esta oração judaica foi encontrada no processo de Maria da Costa, filha de Brites Lopes e de António da Costa, gentilmente cedida por M.ª Fernanda Guimarães.
Orações dos marranos/cristãos-novos de Carção dos finais do século XVII
I
"Ó alto Deus de Abraão,
Ó forte Deus de Israel!
Tu que ouviste a Daniel,
Ouve a minha oração.
Vós, Senhor, que vos pusestes
Lá em cima nas alturas,
Ouvi-me, a mim, pecador,
Que vos chamo das baixuras.
Pois a toda a criatura
Abristes o caminho da fonte,
Levantei ao céu meus olhos
Donde virá minha ajuda.
A minha ajuda virá
Do verdadeiro Senhor
Que fez o céu e a terra
E o mar e quanto há nela.
II
Ó meu Deus, governador!
Ouvi alto meu clamor,
Ouvi a minha oração
Que minha boca se não perca
Entregai-vos, Senhor, dela.
Não me metais em juízo
Pois tendes todo o poder.
Livrai-me da vossa ira
E tende-me de vossa mão. (3)
Aguardo tu Mercedes,
Lo que tu mi gran Dios puedes,
Me muestras tan llano e claro,
E pues le sirves de amparo
Aquel que tu gran Dios quieres.
Sem tu poder no se mueve
La menor cosa del mundo.
Muéstrame en esta ocasión
Como te acuerdas de mi.
Si los leones por ti remueven
Su condición alaben el señor
Tal impasible, en lo impasible,
Inmortal en lo inmortal;
Hoy en el paso en que estoy
Memoria quiero hecer
De todos quedan confesados
Si tanto capaz yo soy." (4)
(3) Fernanda Guimarães e António Andrade, Carção – a capital do marranismo, 2008, pp. 57-58
(4) Esta oração judaica, em língua castelhana, foi citada por Francisco Lopes de Leão em 1667. Encontra-se também no livro: Fernanda Guimarães e António Andrade, Carção – a capital do marranismo, 2008, pp. 61-62
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