UM ESPAÇO DE
INTERCÂMBIO CULTURAL
Entrada de Toledo,
David Temprano
Em 1085, no processo de Reconquista Cristã,
Afonso VI de Leão e Castela conquista Toledo aos mouros. Ao contrário dos
reinos cristãos da península, mergulhados no atraso e na pobreza, a Espanha
árabe tinha atingido um alto nível cultural e tecnológico. Ciente disto, Afonso
VI estabelece uma política de tolerância a muçulmanos e judeus, política que
seria seguida pelos seus sucessores.
Três copistas de
Toledo, Libro de Ajedrez
É nesta conjuntura de convivência harmoniosa
entre cristãos, mouros e judeus, que Raimundo de Sauvetat, arcebispo de Toledo
e grande conselheiro de Castela, entre 1130 e 1150, auspicia projectos de
tradução de textos clássicos gregos, árabes, hebraicos, hindus e persas (com
respectivos comentários), que faziam parte das riquíssimas bibliotecas árabes. Os
textos, sobre medicina, álgebra, astronomia, ou filosofia, seriam traduzidos do
árabe para o castelhano, e do castelhano para o latim, ou directamente do árabe
e do grego para o latim. Davam-se assim os primeiros passos para a criação
daquela que viria a ser conhecida por Escola de Tradutores de Toledo.
Entre os tradutores deste período, destacam-se o moçárabe Domingo Gundisalvo,
o judeu Juan Avendehut Hispano e o italiano Gerardo de Cremona.
Em
1135, os almóadas, vindos do Norte de África, chegaram a Al-Andaluz, destronando
os almorávidas. Com a sua intransigência religiosa, provocaram a fuga das minorias
para os territórios cristãos. As aljamas
(judiarias), como a de Toledo, aumentaram consideravelmente a sua população com
judeus refugiados da Espanha muçulmana. Muitos deles desempenharam um papel
relevante na Escola de Tradutores, não só por a enriquecerem com a tradição
hispano-hebraica, como também por dominarem a língua árabe.
O Cânone da Medicina de Avicena
Iluminura da
versão latina do Cânone, de Gerardo
de Cremona
Uma
das primeiras obras a ser traduzida na Escola de Toledo foi o Cânone da Medicina do sábio persa Ibn
Sina (c. 980-1037), conhecido no Ocidente pelo nome latinizado Avicena. O Cânone de Avicena, escrito em árabe com
o título al Qānūn, foi talvez a obra
que maior influência teve na história da medicina, tendo sido traduzido para
diversas línguas como o latim, o persa, o turco, o hebraico ou o catalão.
Entretanto,
o prestígio crescente da Escola de Tradutores de Toledo atraía poetas,
gramáticos, filósofos, médicos e outros sábios, que fizeram de Toledo um importante
centro cultural, proporcionando à Europa traduções latinas de obras que de
outro modo dificilmente seriam conservadas na tradição ocidental.
É sob a égide de Afonso X, o Sábio (1221-1284), que o centro tradutor
de Toledo vive o seu período áureo. Para além das traduções, é produzida uma
quantidade significativa de livros (muitos em castelhano), que constituem uma
das maiores riquezas, não só do espaço ibérico, como do mundo ocidental. É
redigido o Libro de las Leys (Siete Partidas), a Estoria de España, ou as Tablas
Astronómicas Alfonsíes.
No Libro de los Juegos ou Libro
de Acedrex, dados e tablas o monarca é representado ditando o seu próprio
livro. Envergando uma curiosa vestimenta de padrão semelhante a um tabuleiro de
xadrez, tem à sua direita uns pobres andrajosos que parecem pedir esmola. Serão
uns desgraçados, viciados no jogo, que perderam tudo? (Nas Cantigas de Santa Maria, são referidos vários milagres que falam do
vício do jogo).
Afonso
X, ao encomendar o Libro de los Juegos,
que descreve jogos da cultura hispano-árabe, conhecidos na Península Ibérica,
no Norte de África e na Ásia Menor, demonstra compreender que os jogos também
são uma forma de manifestação cultural.
Judeus jogando alquerque,
uma versão de xadrez para quatro jogadores
Dois mouros jogam
xadrez. O da esquerda segura um livro em árabe, lembrando a origem das fontes
do Libro de los Juegos
Damas cristãs
jogando xadrez
Senhoras mouras
jogando xadrez
Nesta imagem do livro das
“tablas”, ou jogos de mesa que combinam o azar com a estratégia, podemos ver um
tabuleiro que pretende representar os sete céus. No jogo, aqui presidido pelo
próprio Afonso, o livro de passatempos é vinculado a uma das suas maiores
preocupações intelectuais: a astronomia.
Cantigas de Santa Maria
Cantiga 2: Muito
devemos, varões, loar a Santa Maria (viol, lute, recorder, tambourine,
bells)
Esta é de como Santa Maria
pareceu en Toledo,
a Sant’Alifonsso e deu-ll’ha
alva,
que trouxe de Parayso, con que
dissesse missa.
Muito devemos, varões,
loar a Santa Maria,
que sas graças e seus dões
dá a quen por ela fia.
Este artigo foi elaborado e
enviado por,
Sónia Craveiro
Muito obrigada por mais esta participação neste espaço que é de todos.
Fontes:
http://davidtemprano.blogspot.pt/p/toledo-cruce-de-destinos.html
http://es.wikipedia.org/wiki/Escuela_de_Traductores_de_Toledo
http://tranquilacion.wordpress.com/2011/01/30/alfonso-x-y-la-escuela-de-traductores-de-toledo/
http://ciudaddelastresculturastoledo.blogspot.pt/2014/01/historia-de-la-escuela-de-traductores.html
http://bibliotecauclm.blogspot.pt/2013_05_01_archive.html
http://faculty.washington.edu/petersen/alfonso/esctra12.htm
http://www.columbia.edu/cu/spanish/courses/spanish3349/03edadmedia/arte_manuscrito.html
http://www.redjuderias.org/google/google_maps_print/cronologia-toledo-es.html
http://www.grouporigin.com/clients/qatarfoundation/chapter2_5.htm
http://www.instrumentsmedievaux.org/PartMed/Cantigas/CSMtext/c2.html
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