“ Quae fuerat sedes tenebrarum est regia solis //
Expulsis tenebris sol benedictus ovat”
Por António Coutinho Coelho
Já desde antes do início da
nacionalidade que há memórias da existência de judeus no Porto. Viviam na cerca
velha conjuntamente com os cristãos e em boa harmonia. Entre
a burguesia de comerciantes mais proeminente na cidade, encontravam-se diversas
famílias judaicas. Dispunham de uma sinagoga nas Aldas
perto da Porta de Santana.
Arco de Sant'Ana -
Gravura de J. J. Alves Coelho
Para aí poderem residir, tinham
obtido a necessária autorização do bispo, o senhor do burgo. Com o crescimento
da comunidade foram-se estabelecendo ao longo de um eixo que dos Pelames se
estendia pela Viela dos Gatos (hoje Travessa de São Sebastião), Rua Escura, Bainharia
e Mercadores, até à Praça da Ribeira, coração de todo o comércio. Também há
referências da sua presença numa zona que de São Domingos por São João Novo, se
estendia até Miragaia, com sinagoga (doméstica) na Munhata, hoje Rua do
Comércio do Porto (1).
Rua do Comércio do Porto
“Pelos foros e costumes,
concedidos pelos primeiros monarcas, as minorias judaicas e muçulmanas tinham o
direito de se reger pela sua própria lei: o Talmud para os judeus, o Alcorão
para os muçulmanos; de eleger magistrados, que administravam, judicial e
fiscalmente e que superintendiam nas respectivas comunidades: o rabi judeu e o
alcaide mouro, que, à semelhança do que se passava no concelho cristão, eram
coadjuvados pela câmara de vereação e o corpo de homens-bons das respectivas
comunas; de terem os seus templos, além de escolas onde se aprendia a língua e
a escrita, a religião e o direito”. (2)
As três religiões conviviam
em relativa harmonia, ainda que uns fossem os fiéis e os outros, os infiéis. A
situação vai alterar-se com D. Pedro I que dando voz à intolerância crescente
vai determinar a separação física das comunidades: a criação de bairros
fechados com a proibição dos seus habitantes poderem frequentar a zona cristã,
após o sol-posto.
No que respeita ao Porto a
lei vai efectivar-se já no reinado do seu filho D. Fernando. Em 1380, sendo
bispo, o D. João III, o Cabido da Sé fez o aforamento de terrenos, fora de
portas, mais propriamente em Monchique (como Mont Juic), a várias famílias de
judeus. Era uma primeira medida conducente a ser criada uma zona específica
para instalação da comunidade judaica, fora de portas e afastada do convívio
com os católicos, na altura muito sensíveis ao combate contra as heresias. A Judiaria
de Monchique será estabelecida com apoio do Rabi-mor do Rei D. Fernando, Dom
Yehudah ben Maner (ou ben Moise Navarro) e do rabi do Porto, Dom Joseph ben
Abasis (ibn Arieh) que erguerá aí uma sinagoga, de
que nos resta uma bela inscrição guardada no Museu Arqueológico do Carmo.
Lápides de Monchique no
Museu Arqueológico do Carmo
O
local ainda hoje regista o facto na sua toponímia: Rua, Escadas e Pátio Monte
dos Judeus.
Monte dos Judeus em Miragaia – Foto de António Coutinho Coelho
Fotos da rua e escada de Miragaia
Era a comunidade mais
importante da toda a região do Porto. Dispunha de cemitério
próprio, provavelmente nos socalcos onde hoje se encontra o Horto das Virtudes.
Aí existe um curso de água, o Rio Frio, necessário ao ritual de purificação nos
funerais judaicos, que impõe que se lave o corpo antes de proceder ao seu
enterramento (Tahara).
A Judiaria Nova do Olival
Uma
conjuntura europeia e peninsular adversa para os judeus seria acompanhada em
Portugal por um agravamento legislativo da separação entre cristãos e judeus.
As ordenações visando o encerramento destes em bairros próprios (os guetos ou
judiarias), o uso de sinal identificativo, a proibição de circularem nas zonas
cristãs após o toque das Avé Marias, ou das Trindades, foram de novo
promulgadas e confirmadas por D. João I. A 6 de Abril de 1385, o Mestre de
Aviz, tendo 27 anos de idade, foi solenemente aclamado rei de Portugal. Os
Judeus perdem então toda a influência que haviam tido até ao reinado de D.
Fernando. Na carta régia de 10 de Abril de 1385, proibia o rei que judeus e mouros
exercessem ofícios públicos (da coroa ou da cidade) ou que fossem rendeiros
daqueles direitos reais, a que os cristãos estavam sujeitos, assim como lhes
impunha a obrigação de trazerem sinais distintivos (medida que já vinha dos
tempos de Afonso IV). (3)
No que ao Porto diz
respeito, determinou D. João I, em 1386, a concentração dos judeus num local
dentro das muralhas e restrito, junto à Porta do Olival. Correspondia ao
quarteirão hoje existente, limitado pela Rua de S. Miguel (de
que fazia parte a actual Rua de S. Bento da Vitória, com a qual forma um
cotovelo),
Maqueta da Judiaria do
Olival do Porto
Rua das Taipas, Escadas da Esnoga e de Belomonte e
Rua da Vitória até à Viela do Ferraz. Estavam fechadas por dois portões, um na
entrada da Rua de S. Bento da Vitória e outro no final das escadas da Esnoga.
As normas impostas eram
significativamente mais rigorosas que as vigentes em Monchique. Os judeus não
podiam circular na cidade após o “toque de correr”, pelas Trindades. Este sino
que estava perto da Sé e que nos finais do séc. XIV foi transferido para a
Porta do Olival, tocava por 3 vezes a hora de recolher. O terreno foi
aforrado pela cidade aos judeus, contra o pagamento de 200 maravedis de 27
soldos cada um. A Judiaria possuía os seus oficiais próprios e uma certa
autonomia de gestão em relação à cidade. Ali residia o Ouvidor de Entre Douro e
o Minho, o oficial encarregado da justiça nas comunidades judaicas (4), possuíam
inclusivamente um tribunal (bet-hamidrash), regido pelas leis do Talmude para
dirimir questões internas e um açougue que lhes permitia terem a certeza de que
as carnes eram puras segundo a lei do cacherut e que tinham sido devidamente
sangradas (5).
Num
documento de 1390 chama-se-lhe “Judiaria Nova do Olival” e explica-se que os filhos
de Israel aí se congregaram por “mandato e constrangimento” do rei. Tratou-se
de uma política de segregação étnica, querida pelas autoridades católicas e
efectuada por efeito do fervor místico consequente ao milagre de
Aljubarrota. Constrangidos e contra vontade, os judeus tiveram de aceitar a
solução. Mas decerto, e também porque apesar de intramuros, o bairro ficava nas
espaldas do Porto comercial e progressivo e, apesar de tudo, o facto de estarem
juntos permitia-lhes uma entreajuda na defesa contra as perseguições dos
cristãos (6).
D.
João I doou, de seguida, em 1410, o terreno da sinagoga de Monchique a Gil Vaz
da Cunha que o passou em 1433 a Fernão Vasques Coutinho, dos Condes de
Marialva, do Convento de Ferreirim.
Lápide comemorativa da
inauguração da sinagoga de Monchique (encontra-se no Museu Arqueológico do
Carmo em Lisboa) (7)
Em 1533, foi fundado, no espaço da sinagoga de
Monchique, o Convento da Madre de Deus de Monchique de Miragaia, feminino,
pertencente à Ordem dos Frades Menores, e à Província de Portugal da
Observância. Em 1535, pela bula "Debitum Pastoralis Officii" do papa
Paulo III, de 12 de Novembro foi autorizada a fundação, à época em que o bispo
do Porto era D. Pedro da Costa (1507-1535). Será na parede desta capela que se virá a encontrar uma lápide em
hebraico, comemorativa da inauguração da sinagoga.
Convento da Madre de Deus de Monchique de
Miragaia (feminino)
É
também na Judiaria do Olival que, em 1492, em tempos d’el rei D. João II, a
cidade recebeu trinta famílias judaicas e o rabi Isaac Aboab, Rabino-Mor de
Castela, expulsas pelos Reis Católicos. Foram instaladas em trinta casas da Rua
de São Miguel, a quem foi cometido o seu empedramento, bem como o pagamento de
50 maravedis anuais por cada refugiado.
“Naquele
tempo levantar-se-á Mihael, o grande príncipe celestial, o patrono dos filhos
do teu povo”.
Vestígios de uma sinagoga secreta do séc. XVI foram recentemente descobertos nesta rua, no nº 9,
numa casa adquirida pelo pároco de Nossa Senhora da Vitória.
Hekhal
Foi encontrado por acidente, durante umas obras, um
nicho emparedado e foi identificado por especialistas como um hekhal (pronunciado “errál”), a
reentrância onde eram guardados os Sefrei Torah (8), a parte mais sagrada da
sinagoga, também conhecida simplesmente como Arca (aron ha’kodesh – ארון הקדש). O
facto de se encontrar na parede oriental, isto é na direcção de Jerusalém, para
onde os judeus dirigem nas suas orações, e no exacto ponto de chegada das
escadinhas da esnoga, leva a crer que era ali e não no sítio da actual igreja,
que se situava a sinagoga e onde o rabino Aboab fazia as orações.
Constitui um testemunho da prática religiosa judaica
dos convertidos, “um desafio total à situação dominante de Contra-Reforma. Para
além da tipologia da casa (uma entrada por trás, discreta, na Rua de São Roque,
característica do culto clandestino, a documentação, designadamente da Inquisição,
dá conta da existência nas imediações, de casas de jogo, que os cristãos-novos
usavam como elementos distractivos. (Cf. Elvira Mea em declarações ao JN,
artigo de Pedro Olavo Simões)
Inácio Steinhardt duvida: “È difícil de acreditar que os Cripto-Judeus orassem numa sinagoga,
porque isso seria demasiado perigoso, disse. Steinhardt está convencido que os
Cripto-Judeus removeram a arca da sinagoga conjuntamente com os outros
artefactos sagrados e os esconderam em suas casas”. (in Ha’aretz (Israel) -
12/01/2006)
“Em
suma, após a implantação da judiaria no Olival e nomeadamente no séc. XV,
passou a ficar conotada com os judeus. Área de segregados, portanto. Nome mal visto,
o do Olival. Tanto que será apagado da toponímia a partir de meados do século
XVII, quando os beneditinos, cento e cinquenta anos após a expulsão dos judeus,
fundaram, onde foi a judiaria, o seu mosteiro de São Bento da Vitória. Então o
monte passa desde essa altura e até à actualidade, a chamar-se da Vitória.
É crença que com este topónimo – memorativo da vitória da sociedade cristã sobre a judaica, se pretendeu purgar a zona de pejorativas recordações”. (Cf. História do Porto, de Luís Oliveira Ramos, pág. 152).
É crença que com este topónimo – memorativo da vitória da sociedade cristã sobre a judaica, se pretendeu purgar a zona de pejorativas recordações”. (Cf. História do Porto, de Luís Oliveira Ramos, pág. 152).
Pressionado pelas condições
impostas por Castela ao seu casamento com a filha dos Reis Católicos, D. Manuel
I assina, em 5 de Dezembro de 1496, o édito de expulsão dos judeus. Consciente
da sua importância económica no reino, determinou que se convertessem ao
cristianismo e portanto aí permanecessem, pelo que muitos saíram e outros se
converteram. Estes foram chamados de Cristãos Novos por oposição aos que já
existiam que serão os Cristãos Velhos. A maioria acedeu à conversão ainda que
muitos continuassem a praticar o judaísmo em segredo, arriscando serem
severamente punidos pela Inquisição. Como testemunhou Samuel Usque
(9):
O Tribunal do Santo Ofício
havia sido criado em 1536, justamente para velar pela pureza da fé dos novos
cristãos. A acção deste Tribunal no Porto foi, no entanto, limitada. A cidade
era dominada por comerciantes e estas “guerras” nunca foram boas para o
exercício do comércio.
"contra as leis divinas e humanas ficaram feitos cristãos muitos
corpos mas nunca nas almas lhes tocou mácula, antes sempre tiveram imprimido o
selo da sua antiga lei…".
Em
1543 e 1544, há notícia de dois autos de fé, no Campo do Olival, em que foram
penitenciados cerca de 100 cripto-judeus portuenses: 43 penitenciados em cárceres de prisão temporária (de 1 a 10
anos), 15 penitenciados em prisão perpétua com sambenitos, 4 relaxados em carne
e 21 queimados em estátua (Cf. Fortunato de Almeida, "História
da Igreja em Portugal", Vol II, pp. 405/406, Lisboa, 1968 e Elvira Mea, a
Inquisição do Porto).
No Porto, onde as relações
sempre tinham sido cordiais, a maioria dos conversos ficou a viver na cidade,
havendo notícias de muitos casamentos entre cristãos-velhos e cristãos-novos, a
partir da segunda metade do século XVI. “Os cristãos-velhos com a sua pureza de
sangue oferecem segurança e abrem portas a novos cargos, os cristãos-novos têm então
o poder económico”. (10)
Uma visita inquisitorial, em
1618, levou à detenção de centena e meia de cristãos-novos, confiscando-lhes os
bens e causando significativo impacto na economia da cidade. “ Esta visita,
visava além do ataque à ortodoxia, a descoberta, entre os cristãos-novos do
Porto de conexões com os da Bahía e com os grupos de judaizantes portugueses
estabelecidos na Holanda. A invasão do Brasil colonial pelos flamengos, em
1624, parece comprovar esse entendimento” (11).
Ostracizados e espoliados na
sua terra, restou aos cristãos-novos portuenses um caminho, o da emigração. E
saem, nomeadamente para Amesterdão e para outras possessões holandesas no
Brasil. Aí puderam retomar livremente a sua fé. No Recife ajudaram a edificar a
primeira sinagoga das Américas: a Kahal Zur Israel (Congregação Rochedo de
Israel): uma nova Cale num novo mundo. (12)
A sinagoga Kahal Zur Israel
A Paróquia e Mosteiro de São Bento da Vitória
A paróquia foi criada em
1583, pelo bispo D. Fr. Marcos de Lisboa, sob o reinado de Filipe I, que
aproveitando a onda reformista que a recente administração filipina provocara,
por sentença e decreto de 7 de Julho, determinou que a paróquia da Sé fosse
dividida em quatro: Sé, Nossa Senhora da Vitória, São Nicolau e São João
Baptista de Belomonte (que só existiu 9 anos, tendo o seu território sido
repartido entre as outras duas, Vitória e S. Nicolau).
A Rua da Vitória tinha-se
chamado antes Rua de São Roque (existia uma capela a ele votada), Viela de Luís
Coelho, ou Viela da Esnoga, como nos diz D. Rodrigo da Cunha no seu Catálogo
dos Bispos do Porto, publicado em 1623:
“…por baixo logo da dita
igreja de Nossa Senhora da Vitória, estivera situada a sinagoga, em uma rua ou
travessa, que em memória disso ainda conserva o nome de Viela da Esnoga,
corrupto de sinagoga, que ficou convertida em uma capela de S. Roque, há largos
anos incorporada em umas casas da mesma viela.”
Pinho Leal, no seu livro
Portugal Antigo e Moderno refere:
“Dizem
uns que a origem de Rio Tinto, Campanhã, Batalha, e Victória proveio de um
grande combate ferido, entre mouros e cristãos em volta da cidade, e que os
títulos supra comemoram os triunfos alcançados nessas sanguinolentas batalhas,
e os outros dizem que o título de Victória provém da conversão de grande parte
dos judeus que viviam na judiaria do Porto, em volta do local onde se erigiu a
igreja que simbolizava uma conquista moral, não um triunfo guerreiro”.
Em
1598, depois de difíceis negociações, e com grande apoio do rei Filipe I, os
monges da antiga Congregação Beneditina Portuguesa decidem construir o Mosteiro
como marca de presença monástica e ponto de apoio para os religiosos que se
deslocavam de Norte para Sul e vice-versa.
Este
mosteiro beneditino foi fundado sobre as ruínas da antiga judiaria e sinagoga do
Olival. Daí a VITÓRIA: a vitória da fé verdadeira sobre a heresia judaica. Para
tal os beneditinos compraram as trinta casas de courela dos judeus entretanto
expulsos. A fim de emblematicamente salientar a passagem do quarteirão dos
judeus para mosteiro católico, os beneditinos puseram na pardieira da portaria
do mosteiro, uma inscrição de arrogante superioridade:…
“ Quae fuerat sedes tenebrarum
est regia solis // Expulsis tenebris sol benedictus ovat”
…cuja
tradução é:
“Aquela que foi a sede das
trevas, é o palácio do Sol; Expulsas as trevas o sol beneditino está
triunfante”.
Lápide colocada na parede do Mosteiro,
em 1996, por iniciativa de judeus franceses, por ocasião do 500º aniversário do
Decreto de Expulsão de D. Manuel I, onde se pode ler:
“Em memória de todos os judeus
portugueses vítimas do infame decreto de 1496 que lhes deu a opção à conversão
forçada ou à morte. Terra não cubras o sangue deles pelo esquecimento. Que seja
restituída a abençoada memória de todos aqueles e aquelas que durante cinco
séculos mantiveram vivo o eco da palavra de Deus vivo, actualizando a visão
profética de Moisés no Monte Horeb: A sarça ardia no fogo e a sarça não se
consumia. As almas ardentes deles não foram destruídas pelas chamas ou pelos
seres que o queriam, através das mais terríveis torturas, obrigando-os a
renunciar à sua fé sublime na fonte da vida e amor. O justo vibra na sua fé”.
“Os Judeus vi ca
tornados
Todos nuo tempo
christãos,
Os Mouros então
lançados
Fora do Reyno
passados,
E o Reyno sem
pagãos,
Vimos synagogas
mesquitas,
Em que sempre
erão dictas
E pregadas
heresias,
Tornados em
nossos dias
Igrejas sanctas
bendictas.” (13)
Este artigo é da autoria
do nosso amigo
António Coutinho Coelho
A quem agradecemos todo
este magnifico trabalho e a simpatia de me deixar partilhar.
Muito obrigada
Manuela Videira
NOTAS:
(1) Amílcar Paulo, A Comuna
Judaica do Porto, ed. Livraria Athena, Porto, 1965
(2) Maria José Ferro
Tavares, Judeus e Mouros no Portugal dos Séculos XIV e XV, Revista de História
e Economia Social, núm. 9, 1982, pág. 75
(3)
J. Mendes dos Remédios, Os Judeus em Portugal, Coimbra, ed. França Amado, 1895,
pág. 205
(4) Neste tempo, o rabi-mor tinha delegado seus, chamados
ouvidores, nos principais centros judaicos do pais: Porto (Região de Entre
Douro e Minho); Torre de Moncorvo (Trás-os-Montes); Viseu (Beira); Covilhã
(Beira/Serra da Estrela); Santarém (Estremadura); Évora (Alentejo) e Faro
(Algarve). Estes ouvidores exerciam verdadeira jurisdição sobre todas as
comunidades judaicas nacionais. A sinagoga era um local tão importante do ponto
de vista religioso quanto civil; era lugar de assembleia e reunião dos membros
da comuna.
(5) O levantamento cartográfico de Maria
José Ferro Tavares inventaria 140 judiarias em Portugal, antes da expulsão.
(6) “A Judiaria do Olival com as suas largas e arejadas
ruas e novos edifícios contrastava singularmente com as velhas e estreitas
ruelas da antiga cidade. Por esse motivo, todos os funcionários que vinham
aboletar-se no Porto, procuravam obter alojamento neste novo e airoso bairro”.
Barros Basto, Os Judeus do Velho Porto, 1929.
(7) A inscrição
poder-se-á traduzir da seguinte forma:
«1. Alguém
poderá dizer: Como não foi resguardada uma casa de tanta nomeada no interior de
uma muralha?
2. Mas
esse bem sabe que tenho um conhecido que é reconhecido da alta estirpe.
3. Ele é
que me guarda, pois me declara sem sobra de dúvida: Eu sou muralha.
4. O maior
entre os judeus, o mais forte dos heróis, e que se levantam os chefes ali está
ele de pé.
5.
Benfeitor do seu povo, servo de Deus na sua integridade, edificou uma casa ao
seu nome de pedras de talha.
6. Para o
Rei ele é segundo, à cabeça é controlado, pela sua grandeza e na presença de
reis ele se ergue.
7. Ele é o
Rabi Don Yehudah ben Maner, luz de Judá e a ele compete autoridade.
8. Por ordem do Rabi, que ele viva, Don Joseph ibn Arieh, encarregado e
chefe para a tarefa».
(8) O ekhal
era o armário sagrado onde os judeus guardavam a Torah, sob a forma de
manuscrito de papiro, em forma de rolo. O seu espaço era dividido em duas
partes, porque nele era igualmente guardada a lâmpada (ner tamid). Ao seu lado, normalmente numa mísula (Castelo de Vide,
Castelo Mendo), o Menorah, candelabro
sagrado de sete braços. Não tinha portas porque tradicionalmente se encerrava
com uma cortina (pawkhet).
(9) Samuel Usque foi um célebre escritor português
do século XVI. Devido às perseguições aos cristãos-novos efectuadas em
Portugal, Samuel Usque refugia-se em Itália juntamente com o seu irmão Abraham
Usque, dono de uma importante tipografia e casa editora na província italiana
de Ferrara. Foi aí que Samuel Usque publicou, em 1553, a sua obra 'Consolação
às Tribulações de Israel', três diálogos pastoris escritos em estilo bíblico,
em que são contadas as perseguições aos judeus. No primeiro foca a história
bíblica dos judeus, o segundo a reconstrução e destruição do segundo templo de
Jerusalém e o terceiro as tragédias dos judeus durante a Idade Média. Esta
obra, considerada como um dos monumentos da prosa portuguesa do séc. XVI,
começou por circular em Inglaterra, sendo depois reimpresso na Holanda em 1599.
(in jewishencyclopedia.com)
(10) Elvira Mea, Roteiro Porto Judaico, distrib.
CMP (Gab. Turismo, 2003)
(11) A. Vasco Rodrigues, Judeus Portuenses no
Desenvolvimento Económico dos Portos Atlânticos na Época Moderna.( http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6323.pdf)
(12) O
governo dos fenícios não era igual em todas as cidades. Em alguns casos, era
exercido por um rei, hereditário ou eleito. Em outros, era exercido por um
conselho supremo. Apesar da existência do rei ou do conselho, quem governava de
facto era uma assembleia, a kahal, que reunia os comerciantes mais importantes
da cidade. Kahal ou Cahale significava pois, na língua fenícia, “o local de
encontro, o ponto de reunião”. Para os judeus e por arrastamento, a palavra Kahal, passou a designar a sua
assembleia, isto é, a reunião dos que se identificavam com a sua fé, a
sinagoga.
(13)
Garcia de Resende, Miscellanea, IN-CM, Lisboa, 1973, pág. 356
Fotos:
(Arco de Sant'Ana - Gravura de J.
J. Alves Coelho)
(Convento
da Madre de Deus de Monchique de Miragaia – feminino - Cliché da colecção
Vitorino Ribeiro)
(Rua do Comércio do Porto)
(Mosteiro de São Bento da Vitória)
(A
sinagoga Kahal Zur Israel)
Monte dos Judeus em Miragaia – Foto de António Coutinho
Coelho
(Fotos da rua e escada de Miragaia)
(Maqueta da Judiaria do Olival do Porto)
(Foto do hekhal)
(A Paróquia e Mosteiro de São Bento da Vitória)
UMA VISITA AO
PORTO JUDEU:
Obrigado por este artigo fascinante. Permita-me fazer duas observações: o édito de expulsão de D. Manuel I foi assinado em 5 de Dezembro de 1496, e não em 5 de Dezembro de 1486; a imagem que apresenta da lápide comemorativa da inauguração da sinagoga de Monchique é apresentada refletida (de cima para baixo).
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