quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A presença dos Judeus em Carção



"A Capital do Marranismo"


Carção - Rio Sabor


Carção é uma freguesia portuguesa do concelho de Vimioso, no distrito de Bragança, região Norte de Portugal e sub-região do Alto Trás-os-Montes com 27,60 km² de área e 419 habitantes (2011), densidade: 15,2 hab/km². Situa-se no nó de convergência entre as aldeias de Argozelo e Santulhão, e é passagem obrigatória para quem se dirige à sede de concelho, da qual dista dez quilómetros. Tem por limites as freguesias de Argozelo, Pinelo, Vimioso, Santulhão e terras do concelho de Bragança. 

Não tem anexas, mas outrora compreendia cinco casais no rio Maçãs e onze moradores na Quinta da Veiga. Pertenceu ao antigo concelho de Outeiro, extinto em 1855, tendo passado a integrar o concelho de Vimioso.1



Neste local, em 1651, foi justiçado Francisco Mendes, natural do lugar de Carção. Foi condenado à morte e enforcado na Vila de Outeiro, por ter assassinado Gaspar Gonçalves, juiz de Carção. O seu crime foi acrescido por ter despedaçado «com hua fouce roçadoura hua imagem de Christo». No meio do povo de Carção, numa grande lápide de granito cravada no solo, junto a uma fonte, está uma inscrição referente a Francisco Mendes. 





Naquele sítio estavam as casas de habitação do assassino, as quais foram mandadas arrasar e salgar pela barbaridade do crime. Os seus bens foram confiscados para a Coroa, ficaram também os seus descendentes incapazes de obter qualquer ocupação até à quarta geração.



Ponte Romana sobre o Rio Maças


Os habitantes de Carção estão ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número dos seus habitantes é descendente de judeus que se refugiaram no século XV nas aldeias raianas. A importância do legado judaico revela-se no símbolo da junta de freguesia de Carção que tem no brasão uma mezuzá e uma menorá, o candelabro de sete braços, um dos mais antigos símbolos judaicos.




Brasão da Freguesia de Carção


A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsão dos judeus de Espanha pelos Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão (Decreto de Alhambra de 1492). Assim, entraram em Portugal milhares de pessoas e, pelo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de 3000 pessoas. Inicialmente fixaram-se num local chamado Prado das Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Uma vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas de origem judaica, trazendo com elas uma nova cultura e uma nova economia.



Praça antiga de Carção


As tabernas e os talhos eram alguns dos negócios que pertenciam à comunidade judaica. As famílias de negociantes de Carção instalaram-se na zona da praça e os seus estabelecimentos não eram frequentados por lavradores.



Praça nos anos 60




A praça de Carção guarda memórias dos tempos de perseguição por parte da Inquisição, que condenou à fogueira cerca de 18 pessoas da aldeia. Consequentemente, para safar da morte, muitos Judeus converteram-se por fora, para mostrar que já eram cristãos, quando na realidade ainda viviam o verdadeiro espírito judaico. 



Este fenómeno é designado de “Marranismo”. Tudo leva a crer que os judeus usavam as alheiras, produto alimentar da zona, para mostrar que já eram cristãos, logo comiam carne de porco, quando, na realidade, eram feitas, apenas, de pão e aves.



Pedra com símbolos judaicos


Implantada mesmo no centro de Carção, hoje a “Taberna TAI” é um símbolo vivo dos tempos em que os Judeus dominavam o negócio na praça. O edifício centenário, que passou de geração em geração, foi recuperado segundo a traça original e, agora, acolhe pessoas de todos os estratos sociais. Aqui ouvem-se histórias dos tempos em que o cristianismo e o judaísmo dividiam a população e, em tom de brincadeira, até se fazem comentários sobre as pessoas que ainda têm ar de judeus.


Os tempos passaram, as mentalidades mudaram e as práticas judaicas que ainda poderão existir fazem, apenas, parte da intimidade de cada um. A proprietária da taberna, Laura Tomé, de 57 anos, afirma que não tem grandes memórias dos tempos áureos do judaísmo, mas sabe que a “Taberna TAI” foi uma das primeiras a surgir em Carção. “Este negócio já vinha do meu sogro, que pertenceu a uma família que tinha taberna e talho”, recorda ela.


“A aldeia estava dividida. Os judeus tinham os seus negócios na zona da praça, ao passo que os lavradores viviam no cimo do povo e só frequentavam os comércios e cafés da sua zona. Quando os lavradores desciam, o que, por norma, acontecia ao fim-de-semana, havia pancadaria”, recorda o presidente da Junta de Freguesia de Carção, Marcolino Fernandes. Com 76 anos, o autarca afirma que ainda viveu no tempo em que as rivalidades entre cristãos e judeus estavam bem vincadas. “Embora eu fosse lavrador, vivi sempre no meio dos Judeus. O meu pai esteve três anos em França e quando regressou comprou uma casa mesmo no centro da praça, o que para os judeus foi uma afronta. Por isso, desde pequeno que fui assistindo às rivalidades”, frisa o carçonense.



O estado em que estava o edifício que é hoje o  Museu Judaico


 Para reivindicar as tradições e vestígios dos judeus, está em fase de conclusão um Museu dedicado às tradições judaicas. Promovido pela Associação Almocreve, este espaço vai ter dois pisos: um para exposições temporárias e outro dedicado ao judaísmo. O museu fica mesmo no centro da praça de Carção, onde ainda se encontram outros vestígios judaicos.



Faça aqui uma visita virtual ao Museu:



Fontes:

(1 - Paróquia de Carção. Arquivo Distrital de Bragança. Página visitada em 10 de Outubro de 2013).

Consultar este blogue para informação mais detalhada:


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