Os Judeus e Alcoutim
Rua de Nª Sª da Conceição. Óleo de JV, 1987
Quando de uma ida a Faro,
adquiri um pequeno opúsculo, separata do jornal “Correio do Sul”, que tinha por
título Breve notícia da presença dos Judeus no Algarve, 1978, de autoria de
Mário Lyster Franco.
Foi por ele que tive
conhecimento que entre as terras do Algarve onde se instalaram aljamias
constava Alcoutim. Era muito sucinta a informação.
Nada na tradição oral encontrei
sobre o assunto durante a minha presença em Alcoutim de mais de uma década, o
que aliás, tantos anos depois ainda assim se mantém. Na documentação escrita
que localmente consultei, também nada obtive. Contudo, duas inscrições
epigráficas, uma numa pedra sepulcral da igreja matriz e outra num lintel de
pedra de uma porta lateral da igreja da Misericórdia, indicam-nos a presença de
familiares do Santo Ofício, cargo que muito se relaciona com a prática do
judaísmo. Já aqui referimos vários alcoutenejos que sofreram a acção da
Inquisição, pretensamente pela prática do judaísmo.
Igreja S.Salvador, 1970. Óleo de
JV
(Também conhecida como Igreja Matriz)
Em 1980 e então exercendo a
minha profissão na vila de Coruche, adquiri a 2ª edição da História dos
Cristãos Novos Portugueses, de J. Lúcio de Azevedo, Livraria Clássica Editora,
1975 onde Lyster Franco tinha recolhido a informação mas mais nada havia
especificamente sobre Alcoutim, no entanto, dava-nos outras pistas.
Aljama ou aljamia são palavras
de origem árabe que significam reunião, assembleia, congregação, sinagoga,
bairro dos mouros ou judeus em Portugal, o que se pode encontrar em qualquer
dicionário.
As judiarias surgiram por um
lado pela intolerância dos cristãos, por outro pelo desejo dos judeus manterem
a sua unidade. Eram bairros separados que mantinham um determinado isolamento.
As casas utilizavam o ladrilho, o adobe e a madeira, tipo de construção que
ainda conhecemos em Alcoutim, e as ruas eram pavimentadas com pedra, o que
sempre vimos na vila e que nos mais antigos exemplos era um trabalho bastante
tosco.
A rua aqui apontada como possível rua da Judiaria de Alcoutim
Rua
da Nª Srª da Conceição
A comuna judaica de Alcoutim
teria surgido, como muitas outras, a partir da segunda metade do século XV,
segundo Veríssimo Serrão na sua História de Portugal, II Volume, pág.256 e
baseado em Manuel Viegas Guerreiro “Judeus”, in Dicionário de História de
Portugal.
O rendimento da judiaria de
Alcoutim pertencia ao conde da mesma vila, conforme se deduz da leitura do
Archivo Histórico Portuguez, Vol. II. Lisboa, 1904, pag, 119 e seguintes, num
artigo de A. Braamcamp Freire.
Existindo comuna judaica, onde
se situaria? A tradição oral, fonte muito usada nestes assuntos, como já
dissemos, nada nos deixou. Será trabalho de historiadores e arqueólogos que
espero se venha a realizar um dia.
Para mim e pelo conhecimento
que tenho da estrutura urbana da vila, só a vejo situada na actual Rua de Nª Sª
da Conceição, o local da vila de mais difícil acesso e consequentemente onde
existiria um maior isolamento, próprio da comunidade e até o tipo de algumas
construções que conhecia, de janelas altas que pouco mais constituíam do que
pequenas aberturas se ajusta a uma possível reminiscência.
Além disso foi-me possível ver,
ainda que muito rapidamente, um grande arco interior em pedraria e de formato
ogival que de maneira nenhuma era próprio de uma habitação comum,
principalmente em Alcoutim. Isto aconteceu nos finais da década de sessenta,
princípios da de setenta do século passado. Ainda que tivesse sido tapado, está
lá.
Vista de Alcoutim
Com a aquisição de alguns
conhecimentos que aqui deixo expressos e que fui adquirindo no decorrer dos
anos, admito que ali estivesse a casa (sinagoga?) para prática do serviço
religioso, o que na altura, não me passava pela cabeça.
Aqui fica este pequeno apontamento que servirá como ALERTA para novas
situações que se venham a desenrolar.
Autor deste artigo: José Varzeano
Fontes:
Artigo publicado
neste espaço por Manuela Videira
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