segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Em busca de vestigios judaicos por sefarad!



Os Judeus e Alcoutim


Rua de Nª Sª da Conceição. Óleo de JV, 1987


Quando de uma ida a Faro, adquiri um pequeno opúsculo, separata do jornal “Correio do Sul”, que tinha por título Breve notícia da presença dos Judeus no Algarve, 1978, de autoria de Mário Lyster Franco.

Foi por ele que tive conhecimento que entre as terras do Algarve onde se instalaram aljamias constava Alcoutim. Era muito sucinta a informação.

Nada na tradição oral encontrei sobre o assunto durante a minha presença em Alcoutim de mais de uma década, o que aliás, tantos anos depois ainda assim se mantém. Na documentação escrita que localmente consultei, também nada obtive. Contudo, duas inscrições epigráficas, uma numa pedra sepulcral da igreja matriz e outra num lintel de pedra de uma porta lateral da igreja da Misericórdia, indicam-nos a presença de familiares do Santo Ofício, cargo que muito se relaciona com a prática do judaísmo. Já aqui referimos vários alcoutenejos que sofreram a acção da Inquisição, pretensamente pela prática do judaísmo.



Igreja S.Salvador,  1970. Óleo de JV 

(Também conhecida como Igreja Matriz)


Em 1980 e então exercendo a minha profissão na vila de Coruche, adquiri a 2ª edição da História dos Cristãos Novos Portugueses, de J. Lúcio de Azevedo, Livraria Clássica Editora, 1975 onde Lyster Franco tinha recolhido a informação mas mais nada havia especificamente sobre Alcoutim, no entanto, dava-nos outras pistas.

Aljama ou aljamia são palavras de origem árabe que significam reunião, assembleia, congregação, sinagoga, bairro dos mouros ou judeus em Portugal, o que se pode encontrar em qualquer dicionário.

As judiarias surgiram por um lado pela intolerância dos cristãos, por outro pelo desejo dos judeus manterem a sua unidade. Eram bairros separados que mantinham um determinado isolamento. As casas utilizavam o ladrilho, o adobe e a madeira, tipo de construção que ainda conhecemos em Alcoutim, e as ruas eram pavimentadas com pedra, o que sempre vimos na vila e que nos mais antigos exemplos era um trabalho bastante tosco.



A rua aqui apontada como possível rua da Judiaria de Alcoutim
Rua da Nª Srª da Conceição


A comuna judaica de Alcoutim teria surgido, como muitas outras, a partir da segunda metade do século XV, segundo Veríssimo Serrão na sua História de Portugal, II Volume, pág.256 e baseado em Manuel Viegas Guerreiro “Judeus”, in Dicionário de História de Portugal.



O rendimento da judiaria de Alcoutim pertencia ao conde da mesma vila, conforme se deduz da leitura do Archivo Histórico Portuguez, Vol. II. Lisboa, 1904, pag, 119 e seguintes, num artigo de A. Braamcamp Freire.

Existindo comuna judaica, onde se situaria? A tradição oral, fonte muito usada nestes assuntos, como já dissemos, nada nos deixou. Será trabalho de historiadores e arqueólogos que espero se venha a realizar um dia.

Para mim e pelo conhecimento que tenho da estrutura urbana da vila, só a vejo situada na actual Rua de Nª Sª da Conceição, o local da vila de mais difícil acesso e consequentemente onde existiria um maior isolamento, próprio da comunidade e até o tipo de algumas construções que conhecia, de janelas altas que pouco mais constituíam do que pequenas aberturas se ajusta a uma possível reminiscência.

Além disso foi-me possível ver, ainda que muito rapidamente, um grande arco interior em pedraria e de formato ogival que de maneira nenhuma era próprio de uma habitação comum, principalmente em Alcoutim. Isto aconteceu nos finais da década de sessenta, princípios da de setenta do século passado. Ainda que tivesse sido tapado, está lá.



 Vista de Alcoutim


Com a aquisição de alguns conhecimentos que aqui deixo expressos e que fui adquirindo no decorrer dos anos, admito que ali estivesse a casa (sinagoga?) para prática do serviço religioso, o que na altura, não me passava pela cabeça.

Aqui fica este pequeno apontamento que servirá como ALERTA para novas situações que se venham a desenrolar.


Autor deste artigo: José Varzeano


Fontes:

Artigo publicado neste espaço por Manuela Videira

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