CIGANOS
NO HOLOCAUSTO
UM
OLHAR SOBRE O GENOCÍDIO DO POVO CIGANO
Crianças ciganas tocando
violino numa rua de Budapeste, Hungria, 1939
Fotografia de William
Vandivert
A noite de 9 de Novembro de
1938 ficou nos anais da História, como Kristallnacht,
ou “A Noite de Cristal”. Nessa noite,
os nazis profanaram milhares de sinagogas, assassinaram cerca de cem judeus, e
prenderam outros tantos milhares. Kristallnacht
marcou o início de uma era de terror, ódio, e perseguição ao povo judeu, que os
nazis classificaram como ”raça inferior”. Mais importante, Kristallnacht enviou uma mensagem ao público em geral: a violência
contra os judeus era aprovada pelo Estado.
Marzahan, o primeiro campo de concentração
para ciganos na Alemanha (data incerta) – Landesarchiv
Berlin
Para os Romani (ciganos), a brutalidade
policial nazi começou mais cedo. Entre 18 e 25 de Setembro de 1933, o Ministro
do Interior e da Propaganda, a coberto da “Lei contra os criminosos habituais”,
ordenou a prisão de ciganos por toda a Alemanha. No entanto, a acção militar
mais significativa ocorreu no Verão de 1938, entre 12 e 18 de Junho, quando foi
ordenada a “Semana da limpeza dos ciganos” – Zigeuneraufräumungswoche. Na Alemanha e em Áustria foi “aberta a
caça” aos ciganos; presos aos milhares, foram espancados e encarcerados.
Deportação de famílias
ciganas, de Áustria para a Polónia - Setembro a Dezembro de 1939 – Dokumentationsarchiv des Oesterreichichen
Widerstandes
Entre 1933 e 1945, os ciganos, classificados pelo
regime nazi como “associais” e de “raça inferior”, foram vítimas de
perseguições e assassínio em massa. Muitos foram deportados para campos de
concentração e de extermínio, sujeitos a trabalhos forçados, e submetidos a
esterilização.
Sobreviventes ciganos durante a
libertação de Bergen-Belsen, Alemanha, 1945 -
Bildarchiv
Preussicher Kulturbesitz
Após a queda do Terceiro Reich,
não se conhecem esforços dos libertadores para orientar os sobreviventes
ciganos. Aliás, muitos permaneceram escondidos nos campos abandonados, com medo
de serem presos. O povo cigano continuou, assim, vítima de preconceitos há
muito enraizados na mentalidade ocidental, tão bem “justificados” por
especialistas raciais nazis que, partindo da premissa de que todos os ciganos
são criminosos, pretendiam determinar cientificamente a relação da
hereditariedade com a criminalidade.
Nelly Maltseva em dança cigana romani
Latcho Drom (“Uma Jornada Segura”) é
um documentário francês, escrito e dirigido por Tony Gatlif, exibido na rubrica
Un Certain Regard no Festival de Cannes de 1993. O filme, conduzido pela
música, fala sobre a jornada dos ciganos, desde o Noroeste da Índia até
Espanha.
Para
terminar este artigo, escolhemos dois excertos desse filme: o primeiro passado
na Eslováquia, com uma sobrevivente de Auschwitz – Margita Makulová -, que
canta “Aušvits – Pássaro Negro”, lembrando o isolamento e o desespero,
simbolizados pela imagem de um pássaro negro, que traz consigo mensagens da
Terra dos Mortos.
“O pássaro negro entrou no meu coração e
roubou-o/Aqui vivo em Aušvits, em Aušvits tenho fome/Não há um pedaço de pão
para comer.
Não há nada para comer/ esta é a minha má sorte
Uma vez tive uma casa/Tenho tanta fome que podia
matar. Oh,
oh, Jesus, oh, oh.”
Latcho
Drom - Holocausto
O segundo, passado na Roménia, onde um grupo de
músicos se reúne alegremente, para festejar a vida em liberdade depois da era
de terror de Nicolae Ceausescu.
Latcho Drom - Taraf de Haidouks
Quando
os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era
comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque,
afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os
sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
Adaptação de Martin Niemöler do poema sobre o Nazismo “E Não
Sobrou Ninguém”, de Vladimir Mayakovsky
Artigo elaborado
e enviado por
Sónia Craveiro
Muito obrigada pela
participação J
Fontes:
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